domingo, 18 de dezembro de 2011

Se joga na balada, bee!

No que tange ao tema Bofes, vim para Berlim achando que estaria vivendo em algum filme da Belami. Não é bem assim.

Tudo bem que a maioria só precisaria de uns 4 meses de academia. Aliás, acho até que vale o investimento: pegar um alemãozinho de 1,80m/68kg e pagar a academia dele, no final você tem seu próprio Boymagia! Diga se não é jogo?

Mas só caindo mesmo na balada que pude estimar o material humano da cidade.

No meu primeiro final de semana, sai linda de minha residence com minha bici Frau Martha e fomos ver o que XXXBerlim nos presentearia aquela noite. Seis quilômetros depois, estava eu em um dos (yes, um dos) bairros gays de Berlim: Schönenberg. Perambulei de bar em bar: um só tinha cacura (= bee jurássica), o outro só tinha meu povo (= árabes, sou constantemente confundido) se insinuando aos supracitados cacuras e no outro estava tão caído que quando entrei um grupinho cantou uma música comemorando minha chegada. “Serio, Dany, o que você fez?”. Fingi que a música era uma declaração de amor (até porque se não fosse, não saberia pentelhos do que estavam cantando em alemão), botei o trote de Gisele, fui até o final, olhei o resto do bar com desdém, fiz a volta da Gisele com a mão na cintura, sorri pros meus cheerleaders e vazei linda e evangelista (danke, Carla Bahia) do bar.

“Mas, Dany, só tem bar de velho aí na Berlina, é eh?”. Nein, nein. Berlim também tá recheada de bares XXX/Cruising/Gloryhole/Fetish. Entrei em uns, mas sempre me vinha o conselho que minha amiga Juliana sabiamente me concedeu: Se algum alemão te chamar pra descer pro porão, não vá. Você fica em cativeiro por 20 anos, escrava sexual, fazem filhos com você e ainda cortam cada dia um pedacinho de sua carne pra comer no jantar”. Em um desses bares, tinha até dresscode: você pega sua calça jeans Tereza Batista (Cansada de Guerra), pede pra Maricélia separar a Quiboa (resto do Brasil: água sanitária) e fazer um Tie-dye glam nela. Daí você já pode entrar na balada sensualizando com as colegas que também estarão com o mesmo Visú!

Porém, depois de algumas andanças, eu, sem Frau Martha, presa numa árvore, encontro um bar chamado Heile Welt (tradução livre: mundo a salvo). Assim... tinha cacura também? Tinha, mas em menor concentração. Alguém de calça trabalhada no Tie-Dye? Não que eu tenha visto! Então eu estava num Mundo a Salvo... Deu até para vislumbrar pequenas nuances de boymagismo, nada gritante, nada ofuscante, nenhuma magia que Harry Potter não pudesse dar conta (NEWTON; MIRO, 1980, p. 24). Daí percebo que sou o único do bar só, com um copo de Vodka na mão, todos cheios de amigos e eu deslocado blaster. Quando então vejo uma loira de uns 45 anos, gordinha, com uma coroa de princesa na cabeça. Éramos dois solitários na balada com nossos Gute Drink nas mãos, olhando as pessoas se divertirem.  Ai, como sentia falta de Barcelona, estando agora tão perto... O garçom me dava umas olhadas de pena (parte pelo meu figurino todo equivocado de quem acha que é só sobrepor roupa que você já esta digna da Vogue Outono/Inverno).  Dez minutos depois chegam os amigos da “princesinha”. Dez minutos depois, eu sou o único solitário do bar. De novo. Aquilo ali estava errado e eu tinha de fazer alguma coisa. Foi quando passou por mim um rapazito moreno e tesudo e eu lembrei minha verdadeira essência: Piriguete!

Com o Piriguetismo Mode On, lancei de minhas armas de sensualização e joguei olhares sensuais daqueles tipo miopia  3.5o . O rapaz correspondeu os olhares, mas, como bom alemão, nenhuma atitude em concreto. Ele foi para uma parte do bar onde eu não conseguia mais vê-lo.  Eu continuei na minha confortável posição de solitário, até que depois de um tempo ele passa por mim de novo com olhares lascivos, mas outra vez sem atitude, só que agora indo embora do bar. Eu, nascida e criada no Língua de Prata, em Itapuã, PHD em Ninja, não poderia nunca “perder vendas” (CAVALCANTE; DALMUCHA, 1986, p. 69).

Segui então o rapaz e seus amigos até que eles entrassem no próximo bar. Óbvio que eles me viram, mas como estamos no Velho Mundo, ninguém achou que eu fosse abordá-los com o famoso “perdeu, preiboy!”. Eles se sentaram a uma mesa e eu, na mais lisa das caras de pau, me sentei também e já fui me apresentando.

Para encurtar a história, peguei o telefone do rapaz (eu ainda não tinha número de celular), mas não deu um minuto para que eu perdesse o número. Eles então saíram do bar e mais uma vez eu os segui. Dessa vez só achei o amigo dele e pedi pra que lhe desse meu e-mail. Você recebeu algum e-mail dele? Isabelita dos Patins recebeu e-mail dele? Os servidores centrais do Google receberam esse e-mail? Pois é... nem eu.

Mas minha cigana (sou baiano, me deixe com minhas crenças) foi mais forte e 4 dias depois, o encontro do nada na rua. Contatos devidamente trocados.

Para o segundo final de semana em Berlin, havia reservado a data para o rapazito ali de  cima. Foram 2 dias da semana de intensa depilação. Tosa completa. Creme depilatório, máquina de cortar cabelo, pelos do púbis em formato de Elevador Lacerda... resumindo, uma trabalheira... Resultado: levei bolo, já todo montado para sair de casa.

Vocês acham que eu ia ficar em casa amargando a solidão acessando vídeos “educativos”? Jamais!

Escolhi a ceroula mais bonita, vesti a camisa térmica apertadinha, coloquei a meia térmica cinza escura, depois outra camisa, então o pulôver, um casacão, luvas e gorro. Estava pronto para sensualizar no cena eletrônica de Berlim...

Peguei Frau Martha, percorremos 7 quilômetros até a balada. Custo 10 euros.
Logo que entro, é um tal de tirar gorro, luvas, pulôver e atochar no casacão para pôr no Guarda-volumes da boate.

A balada era num galpão, não muito grande, mas o boymagismo por metro quadrado me surpreendeu e, para minha felicidade, ao contrário do que se vê nas ruas de Berlim, aquela micro-população frequentava a academia.

Só para situá-los, queridos leitores, de como funciona a paquera aqui na Alemanha (tema altamente discutido entre eu e minhas amigas brazucas daqui), farei uma pequena tabela cronológica com duas simulações distintas:

1a Simulação: Brasilianer gegen Deutsche (BRA vs. ALE)

Dia 1 – primeiro confronto na balada, flertes com olhares, em torno de 5 sessões de 30 min. Pode resultar numa vitoriosa troca de e-mails.

Dia 4 – cansado de esperar por aquele e-mail com conteúdo inapropriado para menores de 18 anos no dia seguinte, BRA se rende e envia um e-mail.

Dia 9 – ALE envia resposta curta, objetiva e com conteúdo apropriado para qualquer idade.

Dia 9 (10s depois) – BRA já se escala para um 2o confronto logo no fim de semana que segue.

Dia 12 – ALE, após consultar agenda, responde de forma curta, objetiva e com conteúdo apropriado para qualquer filme da Disney que seria mais adequado beberam alguma coisa dali a um semana.

Dia 19 – 2o confronto BRA vs. ALE: 30 min de puro tédio.

Dia 25 – após mais algumas trocas de e-mail, as probabilidades de que haja ceroulas voando aumenta na mesma proporção do PIB da Grécia.

OBS.: nessa simulação, o elemento BRA costuma a tomar as atitudes que fazem com que haja progressão na tabela cronologica


2o Simulação: Deutsche gegen Deutsche (ALE vs. ALE)

2 meses – ZZZZzzzZZzzZZzzZZzZZZzZZZzZ
A longo prazo – extinção da espécie.

Mas nos 20 minutos de boate, eis que um alemão começa a me olhar e se aproximar. Representando apenas 5% dos casos acima descritos, desencanto em Berlim.  Ficamos mais um tempinho juntos e depois cada qual no seu cada qual.

Troto então lindamente até o meio da pista para começar a sensualizar. Depois de alguns passos pré-coreografados em casa (e graça essa belezura que é o Youtube), começo a sentir uma calor subindo pelo meu corpo. Algo me queimando por dentro, um fogo interno. Então, me dou conta que eu, para chegar até a boate de bicicleta, havia posto meia térmica, calça térmica e camisa térmica. Era 20 minutos na pista e 20 minutos na parte externa para refrescar...

A boa notícia é que, mais tarde, todo esse aparato térmico foi parar no chão do apartamento de alguém. Ceroulas voaram!

OBS.: o supracitado rapazito, na verdade, não era alemão, mas sim kosovar (Wikipedia!) e me rendeu umas 3 noites desfrutáveis.





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